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Violência Doméstica
MPRJ realiza seminário sobre Violência Contra a Mulher e lança a Cartilha Papo de Homem
Publicado em Mon Mar 26 12:08:54 GMT 2018 - Atualizado em Mon Mar 26 19:16:48 GMT 2018

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, por meio do Instituto de Educação e Pesquisa (IEP/MPRJ) e do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Violência Doméstica contra a Mulher e Núcleo de Gênero (CAO Violência Doméstica e Núcleo de Gênero/MPRJ), realizou, nesta sexta-feira (23/03), o seminário “Violência Contra a Mulher: Políticas de Prevenção e Lançamento da Cartilha Papo de Homem”. 
 
O evento lotou o auditório do MPRJ com membros, servidores, professores, alunos da rede estadual, psicólogas e enfermeiras. As promotoras de Justiça Lúcia Iloizio e Alexandra Feres, respectivamente coordenadora e subcoordenadora do CAO Violência Doméstica e Núcleo de Gênero/MPRJ, promoveram um debate sobre o enfrentamento da violência doméstica, sobre a eficácia da Lei Maria da Penha e sobre o comportamento masculino acerca da questão. 
 
Presentes à mesa, ainda, o subcoordenador do IEP/MPRJ, Leandro Navega; a psicóloga do Ministério da Saúde e da UFRJ Cecilia Soares; a subsecretária de Políticas para Mulheres do Município, Comba Marques Porto; a representante da secretaria de Estado de Educação (SEEDUC), Terezinha Lameira; a coordenadora de projetos da ONG Promundo, Linda Cerdeira; e a coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos do Ministério Público da Bahia (CAODH/MPBA), promotora de Justiça Márcia Regina Teixeira.
 
“A mulher tem seu local de fala, mas precisamos falar e conversar com homens, sim. Todos nós precisamos nos envolver nesta questão”, afirmou a promotora Lucia Iloisio. “A cartilha é bem didática e traz uma série de informações para homens sobre a Lei Maria da Penha e como ela os atinge, como eles podem reagir antes de ‘perder a cabeça’, expressão utilizada pela maioria, e tomar consciência disso”, explicou.
 
Já disponível no site do MPRJ, a Cartilha Papo de Homem começará a ser distribuída dentro de alguns meses. Idealizadora do projeto, ao lado do analista técnico Rafael Torres de Cerqueira, psicólogo do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBT (GEDEM/MPBA), a promotora Márcia Regina Teixeira contou que teve a ideia durante a palestra “A experiência do Ministério Público da Bahia na promoção de campanhas de prevenção à violência contra a mulher”. 
 
“Sou baiana, mãe, esposa e promotora de Justiça. Demorei muito tempo para ter vontade de falar sobre a Lei Maria da Penha e a violência para os homens. Eu queria trabalhar para mulheres. Mas nas minhas palestras, o Rafael anotava as perguntas relacionadas aos homens. Há conceitos da lei que as mulheres não entendem, quem dirá os homens? O sistema patriarcal sexista que existe e persiste no Brasil não faz mal somente às mulheres, faz mal para os homens também”, ratificou Márcia em seu discurso.

Em seguida, na apresentação sobre “Novas Masculinidades - O trabalho desenvolvido pela ONG Promundo para a equidade de gênero”, Linda Cerdeira ressaltou a importância da autoestima para a mulher e o trabalho da instituição, atuante em diversos países do mundo com o objetivo de promover a igualdade de gênero e a prevenção da violência com foco no envolvimento de homens e mulheres na transformação de masculinidades. “Historicamente, ser mulher sempre foi forma de resistência. Hoje, ser mulher é representar um risco. E se representa esse risco é porque representa potência, e potência assusta”, disse. 
 
Linda ponderou sobre a mudança na noção de masculinidade e como os próprios homens podem auxiliar na construção de uma sociedade não machista. “A gente já entendeu que precisa trazer os homens para a discussão, trabalhar junto para que eles possam expor a sua visão. Temos que identificar formas de ser homem que não sejam violentas e mostrar que há outros jeitos de agir”.
 
Sua fala foi endossada por Terezinha Lameira, da SEEDUC, que defendeu a discussão na formação de cidadãos conscientes. “Que consigam perceber que suas pequenas ações ajudam a praticar uma violência que fará parte de um ciclo que pode prejudicar uma vida no futuro. Muitas vezes a vítima não se percebe como vítima e o autor não se percebe como autor. É importante ter essa parceria com todas as esferas de governo, os poderes e todos os segmentos. A gente precisa de novas gerações que venham a continuar o trabalho para possamos ter um mundo mais justo e menos violento”, observou.
 
A abertura do diálogo com os homens foi pontuada, ainda, por Comba Marques, que classificou a cartilha como um instrumento “muito bom e poderoso no âmbito de nossas políticas públicas”. “Esse enfoque de fortalecimento da nossa cidade, da defesa dos direitos humanos, e do trabalho com homens é muito importante. É a chance de o opressor buscar um outro comportamento, de olhar a mulher de modo respeitoso, não discriminatório. Em defesa de uma sociedade em que as mulheres sejam livres e não violentadas em razão de serem mulheres”, refletiu. 
 
Ao fim do evento, as palestrantes e debatedoras responderam a perguntas da plateia sobre temas como a Lei Maria da Penha, os relacionamentos abusivos, o encaminhamento de homens que praticaram violência contra a mulher para grupos reflexivos dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, e, principalmente, o aprofundamento da consciência de que a mulher não é a culpada pela agressão sofrida. 
 
“A gente não percebe que determinadas brincadeiras e piadas têm um viés que reforçam o estereótipo e posturas para quais a sociedade como um todo já faz um movimento de repulsa. Como podemos amenizar esse tipo de preconceito com relação à mulher?”, questionou Comba Marques.
 
Para a promotora Lúcia Iloizio, o essencial é persistir no trabalho e nos atendimentos especializados. E, diz ela, é gratificante ver como a postura da mulher muda depois que esta se permite ser auxiliada. “Eu me sinto muito feliz quando atendo a mulher num dia e depois a vejo como outra pessoa. A adversidade vamos encontrar sempre, mas não devemos desistir”, conclui.

 

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