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MPRJ, com apoio das Polícias Civil e Militar, deflagra operação para prender integrantes do 'Escritório do Crime' por tentativas e prática de homicídios no Rio de Janeiro
Publicado em Tue Jun 30 07:17:46 GMT 2020 - Atualizado em Tue Jun 30 21:34:41 GMT 2020

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ), com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), da Polícia Civil do Estado (PCERJ) e da Corregedoria-Geral da Polícia Militar (PMRJ), deflagrou, nesta terça-feira (30/06), a operação Tânatos, numa referência ao 'Deus da Morte' na mitologia grega. A investigação do GAECO/MPRJ contou também com apoio da  força-tarefa da  Coordenação-Geral de Combate ao Crime Organizado da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (SEOPI/MJSP). O objetivo  é cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra denunciados de compor organização criminosa conhecida como 'Escritório do Crime', que se dedicam a homicídios por encomenda. Foram presos no início da manhã Leonardo Gouvêa da Silva (vulgo 'MAD') e de Leandro Gouvêa da Silva (vulgo 'Tonhão').

A operação é resultante de três denúncias apresentadas pelo GAECO/MPRJ, que descrevem os crimes cometidos pelo grupo, que possuía ligação estreita com Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como 'Capitão Adriano', que exercia forte influência sobre o bando, o qual nutria verdadeira reverência a sua representatividade no submundo do crime. Cabe lembrar que Adriano foi denunciado pelo GAECO/MPRJ na operação “Intocáveis”, em 14 de janeiro de 2019, tendo sua prisão decretada. Logo, o 'capitão' tornou-se foragido da Justiça e acabou sendo morto por agentes do BOPE em 9 de fevereiro de 2020, durante operação visando sua captura, realizada pela PCERJ e a Polícia Civil da Bahia, na zona rural da cidade de Esplanada, no interior daquele estado.

Numa das denúncias apresentadas, descreve o MPRJ que na atuação do grupo criminoso há emprego ostensivo de armas de fogo de grosso calibre. A agressividade e destreza nas ações finais revelam um padrão de execução. Fortemente armados e com trajes que impedem identificação visual, tais como balaclava e roupas camufladas, os atiradores desembarcam do veículo e progridem até o alvo executando-o sem chances de defesa. 'Capitão Adriano' é apontado como mandante do homicídio de Marcelo Diotti da Mata, cuja execução, na noite de 14 de março de 2018, no estacionamento de uma hamburgueria na Barra da Tijuca, ficou a cargo do grupo criminoso agora denunciado. Diotti, que já havia sido preso por homicídio e exploração de máquinas de caça-níqueis, era visto como desafeto por seus executores.

O mesmo grupo criminoso é apontado como autor da tentativa frustrada de execução do PM reformado Anderson Cláudio da Silva ('Andinho'), em 6 de janeiro de 2018, na Rua Ribeiro de Andrade, em Bangu. O alvo, no entanto, não foi atingido pelos disparos. Após essa data, apurou-se que os denunciados, em diferentes dias, se deslocaram a outros endereços vinculados a Anderson, com o intuito de monitorar sua rotina, em busca de obter êxito em uma segunda investida criminosa, que veio a ocorrer em 10 de abril do mesmo ano.

A organização possui estrutura ordenada e voltada, sobretudo, para o planejamento e execução de homicídios encomendados mediante pagamento em dinheiro ou outra vantagem. Nesta hierarquia, Leonardo Gouvêa da Silva (vulgo 'MAD') exerce a chefia sobre os demais, competindo-lhe a negociação, o planejamento, a operacionalização e a coordenação quanto à divisão das tarefas criminosas a serem executadas por seus asseclas, sendo forte braço armado. Destaca-se ainda a atuação de Leandro Gouvêa da Silva (vulgo 'Tonhão'), irmão e homem de confiança de Leonardo, que atua como motorista do grupo, tendo ainda como incumbência o levantamento, a vigilância e o monitoramento das vítimas. Outros dois denunciados cumprem funções semelhantes, sendo ainda braços armados: João Luiz da Silva ('Gago') e Anderson de Souza Oliveira ('Mugão'), ambos ex-policiais militares.

Foram oferecidas três denúncias, sendo uma junto á 1ª Vara Especializada da Comarca da Capital, tendo sido expedidos mandados de  prisão e busca e apreensão por crime de organização criminosa. A segunda, por crimes de homicídios, foi distribuída à 3ª Vara Criminal da Comarca da Capital, em face de Leonardo Gouvêa da Silva ('MAD'), Leandro Gouvêa da Silva ('Tonhão') e João Luiz da Silva ('Gago'),  onde também foram expedidos mandados de prisão e  de busca e apreensão. A terceira denúncia oferecida foi  distribuída junto à 4ª Vara Criminal da Comarca da Capital, tendo como vítima de homicídio Marcelo Diotti da Matta, morto em 14 de março de 2018, na  Barra da Tijuca. Cabe ressaltar que a investigação que originou as denúncias contou com técnicas inovadoras, sobretudo no aspecto de uso de tecnologias, em procedimentos autorizados pela Justiça. As provas que compõem as denúncias resultaram na deflagração da presente operação Tânatos.

Atualização

O GAECO/MPRJ esclarece que, a partir do Caso Marielle Franco e Anderson Gomes surgiram denúncias sobre eventual participação do escritório do crime nos assassinatos da vereadora e de seu motorista. Desde então, o GAECO/MPRJ instaurou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar a existência desta organização, como atuava, quais os crimes praticavam e monitorar seus supostos integrantes. Esta investigação, portanto, surge a partir do caso Marielle, com diversos atos de investigação foram praticados.

Ainda segundo o GAECO/MPRJ, a investigação provou de forma técnica que os denunciados, alvos da operação nesta terça-feira (30/06), não foram os executores do crime contra a vereadora e seu motorista, ao contrário de algumas suspeitas, e cujos responsáveis (Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz) já respondem judicialmente. Mostrou-se comprovado que este grupo praticou outro crime de homicídio e em local diverso da cidade, a poucas horas do crime cometido contra a vereadora. No curso das investigações também não foi comprovado qualquer vínculo entre os ora denunciados e os executores da vereadora. A simetria das ações criminosas apenas demonstram que os crimes perpetrados por estes mercenários são eivados de profissionalismo e sofisticação.

O GAECO/MPRJ reitera que as investigações do caso Marielle e Anderson quanto ao mandante prosseguem sob sigilo.

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