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MPRJ participa da 8ª Caminhada do Dia Mundial da Conscientização do Autismo
Publicado em Mon Apr 09 11:11:07 GMT 2018 - Atualizado em Mon Apr 09 18:32:53 GMT 2018

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da Ouvidoria Itinerante, participou, na manhã de domingo (08/04), da 8ª Caminhada do Dia Mundial da Conscientização do Autismo, promovida pelo Grupo Mundo Azul. A ação aconteceu no posto 12, no Leblon, e reuniu centenas de participantes, em especial defensores da causa e pais acompanhados de seus filhos autistas, muitos deles carregando balões azuis - símbolo da campanha. Esta é a segunda vez que o Projeto Ouvidoria Itinerante do MPRJ participa em apoio ao movimento.

"Muitas das pessoas aqui presentes costumam dar relatos do quanto se sentem órfãs de políticas públicas. Por meio da tenda da Ouvidoria, experimentam o sentimento contrário, que é de acolhimento e de orientação. A atuação das ouvidorias é, antes de tudo, uma questão de humanidade. Podemos até não dispor das soluções na hora, de pronto, mas sempre vamos atrás para respondê-las com a devida assertividade. Nosso trabalho é de  interlocução. Temos que ser os portadores de todas as reivindicações, somos uma ponte entre os cidadãos e o poder público", definiu o ouvidor do MPRJ, procurador de Justiça José Roberto Paredes, que defendeu ainda a plena união entre as entidades em defesa dos autistas, para dar ainda maior força à causa.

Assessora da Ouvidoria do MPRJ, a promotora de Justiça Georgea Marcovecchio Guerra também falou sobre o encontro. "Ele busca conscientizar a sociedade de que há no seu seio pessoas especiais, que precisam ser respeitadas, não-discriminadas e valorizadas. A maior demanda que recebemos desses pais costuma tratar da falta de mediação nas escolas, tanto na rede pública quanto na particular. E já recebemos reclamações neste sentido, em nosso atendimento de hoje. A nossa presença nos eventos realizados em locais públicos destaca-se pela proximidade. O cidadão é o fiscal, mas o MPRJ não consegue estar presente em cada sala de aula do estado. Por isso, precisamos contar com a participação da sociedade, e que ela nos procure para que possamos atuar na defesa dos direitos violados", pontuou.

Um dos fundadores do Mundo Azul, Luciano Aragão estava entusiasmado com o número de participantes da caminhada. "Dados mostram que 1,5% da população pediátrica, com idade entre um e oito anos, é autista. Por isso, ainda nos surpreende o fato dessas pessoas serem tão pouco visíveis aos olhos da população. Um dos nossos focos de atuação é no tratamento das instituições como um todo, para que elas compreendam que esses indivíduos existem, têm direitos, precisam de apoio e acolhimento. De pouco adianta buscarmos o desenvolvimento dessas crianças se, lá na frente, depois de tudo, a sociedade não estiver preparada para recebê-las. Daí, o processo de inclusão simplesmente não se completa".

O Mundo Azul trabalha por políticas públicas eficientes e pela implementação de centros de tratamento e reabilitação para autistas, para a oferta de atendimento multidisciplinar, com diagnóstico precoce e educação especial, além de lar terapêutico para os que ficam órfãos. Pai de um menino hoje com 14 anos, diagnosticado com autismo aos três, Luciano Aragão destacou o papel do MPRJ neste contexto. "O Ministério Público é um agente fiscalizador das leis e, como tal, sua presença representa um abraço no conjunto da sociedade e um afago nessa parcela da população, em geral tão desassistida. Sentimos aqui o peso e a força da instituição. Esse pais e crianças se sentem assistidos pelo MPRJ".

A caminhada contou com tenda de atendimento da Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro), além da presença de representantes de entidades como a APAE-Rio (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB-RJ, o Centro de Valorização da Vida (CVV) e os grupos Mente Sem Limites e Roda de Conversa, vinculado à Uerj.

Solange Soares de Mattos trabalhou por anos em função administrativa num escritório. Até que, em 2015, resolveu mudar. "Fiz Pedagogia e comecei a mediar um menino de 11 anos, um autista severo, que quase não falava. Em um ano, começamos a perceber uma evolução muito grande, gratificante, com maior interação. Ele foi se interessando em fazer outras coisas e não a ficar apenas isolado dentro do seu próprio universo", contou ela, para quem o sucesso na tarefa de assistência aos autistas depende da conjunção de dois elementos básicos. "A intervenção precisa ter técnica e afeto. O mediador precisa verdadeiramente estar disponível para essa criança, conhecê-la, saber das suas necessidades. Ela precisa se sentir amada e valorizada, perceber que todos os envolvidos querem ver seu crescimento".

Entre os pais, a emoção marcou a realização do evento. no domingo de céu azul na orla carioca. "Este ato serve para mostrar que nosso filhos são crianças como as outras, só que especiais, por isso merecem atenção diferenciada. Aprendo cada dia mais com o Gustavo. Temos uma relação muito baseada no afeto. Meu filho é um garoto muito carinhoso, amoroso", descreveu Isabelle Carielo Neves, que engrossou as queixas pela falta de políticas públicas de atendimento a essa parcela da população. "Lá no Mato Alto, próximo à Praça Seca, onde moro, foi entregue há dois anos, pela prefeitura, um espaço físico de atenção aos autistas. Só que, até hoje, o projeto não entrou em funcionamento, devido à falta de profissionais", lamentou.

Débora Mesquita de Abreu Ribeiro era só carinhos com a pequena Maria Eduarda, de dois anos e meio, que dormia em seu colo. "Desde que nasceu, percebi que ela era diferente. Hiperativa, fez várias coisas precocemente. Engatinhou, andou e começou a falar muito cedo. Só que, quando completou dois anos e dois meses, parou com tudo -  comportamento que é comum entre os autistas e se chama 'desenvolvimento regressivo'. Passamos por dificuldades enormes, a começar pela obtenção do diagnóstico correto, pois não era fácil encontrar um pediatra que indicasse os exames adequados. Faltam médicos devidamente habilitados para cuidar das nossas crianças. E enfrentamos ainda problemas de cobertura com nosso plano de saúde", relatou ela, para quem o balanço final, no entanto, é positivo.

"Maria Eduarda fez e faz de mim uma pessoa muito melhor, sobretudo no olhar em relação ao próximo. Cada sorriso, cada avanço, coisas que às vezes são pequenas para os outros pais, pra gente são grandes conquistas. Vou fazer de tudo para que ela seja uma adulta plena, funcional. Meu maior medo é quando não estivermos mais por aqui. Eu e Eduardo nos tornamos pais tardiamente, depois dos 40 anos. Quando morrermos, quem cuidará dela? Com qual política pública ela poderá contar? Por isso, costumo brincar que nós dois teremos que viver, pelo menos, uns 120 anos", sorriu Débora.

Bem ao lado, ouvindo tudo até então calado, estava Carlos Eduardo, pai de Maria Eduarda, que a essa altura depertava já distribuindo acenos e sorrisos. "Fizemos questão de estar nesta caminhada pois sentimos a necessidade de, cada vez mais, nos unirmos a outros pais que estão na mesma situação. Viemos para buscar apoio e também prestar solidariedade. Sozinhos, não conseguimos nada. Juntos, não mediremos esforços, seja na busca dos melhores profissionais ou na compra dos remédios. Tudo vale. Nossa relação com a Maria Eduarda é a do mais puro amor", resumiu.

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